“Detesto a falsidade, porém amo a tua lei.” (Salmo 119:113)
Chegamos aos oito versículos do Salmo 119 (113 a 120), que iniciam com a 15ª letra do alfabeto hebraico, a letra “Samech” que corresponde a letra “S” da língua portuguesa e tem um formato fechado “ס”, lembrando uma circunferência. Este formato, muitas vezes, é usado como um símbolo do que é eterno, indicando a pessoa de Deus que não tem início nem fim, o Criador, que tendo trazido a existência o universo pelo Seu poder e Sua palavra, não só o abençoou como também mantém toda a Criação em absoluta segurança.
Um dos sentidos da letra “Samech” é exatamente o ato de erguer as mãos sobre algo com a finalidade de abençoar. Os rabinos fazem referência à Bênção Sacerdotal: “O Senhor os abençoe e os guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre vocês e tenha misericórdia de vocês; o Senhor sobre vocês levante o seu rosto e lhes dê a paz.” (Números 6:24-26), como a indicação perfeita do significado da letra ”Samech”, que tem o valor numérico 60, e no hebraico, esta bênção tem exatamente 60 letras.
A letra “Samech” fala também de refúgio, de fortaleza, de uma cidade forte e murada. Fala de “apoio” aos que estão fracos, aos que caem, aos que estão em depressão. As bênçãos do sacerdote são para proteção. Para que os inimigos não alcancem vantagem sobre a pessoa abençoada, evitando assim que algo ruim aconteça.
O Versículo 113: “Detesto a falsidade…” começa com a palavra “SEAFYM” que tem o sentido de “os vacilantes”, que tem sido traduzido como “duplicidade” e “falsidade”, no texto que estamos utilizando, a Nova Edição Atualizada da SBB.
Esta tradução literal, “vacilantes” nos leva a considerar a maneira astuciosa como o diabo trabalha inserindo pensamentos, sugestões, ponderações que embora pareçam plausíveis, sempre irão questionar a veracidade da Palavra de Deus, e deixam a nossa mente “vacilante”. A tragédia incomensurável que foi a QUEDA do homem, ocasionando a entrada do PECADO no mundo, foi exatamente devido a esta dúvida introduzida, gerando desconfiança em relação à ordem dada por Deus. A falsidade foi apresentada como “verdade” e o estrago foi desmedido, com efeitos que perduram por toda a história.
Veja que o salmista afirma, como se estivesse em oração diante de Deus: “Detesto a falsidade, porém amo a tua lei.” O que faz toda a diferença é ter apego, com toda a firmeza, à Palavra de Deus. É ter amor aos preceitos do Senhor que implica exatamente em detestar a falsidade.
Lamentavelmente, são poucos e raros, em cada geração, os que amam a lei do Senhor, e há períodos na história quando a impressão que se tem é que desapareceram da face da terra os que amam ao Senhor e a Sua palavra, e então, a falsidade, a perversidade, a maldade avançam assustadoramente.
Davi expressou isso claramente no Salmo 12: “Salva-nos, Senhor ! Porque já não há quem seja piedoso; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens. Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido. Que o Senhor corte todos os lábios bajuladores e a língua que fala soberbamente. Pois dizem: ‘Com a nossa língua prevaleceremos; os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?’ ‘Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora’, diz o Senhor , ‘e porei a salvo aquele que anseia por isso.’ As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em forno de barro, depurada sete vezes. Sim, Senhor , tu nos guardarás; tu nos livrarás desta geração para sempre. Os perversos andam por toda parte, quando aquilo que não presta é exaltado entre os filhos dos homens.”
Observe o contraste que há entre aqueles que falam com falsidade, com lábios bajuladores e com o coração fingido, os “vacilantes”, em relação àqueles que anseiam pelo Senhor e que amam a Sua palavra, que afirmam com toda convicção: “As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em forno de barro, depurada sete vezes.”
Há um momento histórico de grande importância e significado, quando Deus levantou o profeta Elias, homem que amava ao Senhor e a Sua Palavra. A sua marca foi exatamente a da fidelidade total à Palavra do Senhor, numa época de apostasia generalizada. Elias orou e durante três anos não houve chuva sobre a terra o que ocasionou um período de fome por toda a nação. Lemos então que “no terceiro ano da seca, a palavra do Senhor veio a Elias, dizendo: Vá apresentar-se a Acabe, porque farei cair chuva sobre a terra. Então Elias foi se apresentar a Acabe. E a fome era extrema em Samaria.” (1 Reis 18:1,2).
Neste período de três anos, o rei Acabe usou de todas as estratégias que conhecia e dispunha para encontrar Elias com o fim de matá-lo e de maneira surpreendente e milagrosa, Deus preservou o seu profeta. Mas eis que Elias foi enviado ao encontro do rei Acabe e lemos que “quando Acabe viu Elias, disse: Então é você, o perturbador de Israel? Elias respondeu: Eu não tenho perturbado Israel. Quem tem perturbado Israel é você e a casa de seu pai, porque vocês abandonaram os mandamentos do Senhor e seguiram os baalins.” (1 Reis 18:17,18). A falta de amor e de obediência aos mandamentos de Deus foi a causa da tragédia sobre toda a nação e pela inclinação que todos fizeram, de seus corações, para o que era falso, para a idolatria.
Elias, orientado pelo Senhor, disse para o rei Acabe: “Agora ordene que todo o Israel venha se encontrar comigo no monte Carmelo. Convoque também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas da deusa Aserá que são sustentados por Jezabel. Então Acabe enviou mensageiros a todos os filhos de Israel e ajuntou os profetas no monte Carmelo. Depois, Elias se aproximou de todo o povo e disse: — Até quando vocês ficarão pulando de um lado para outro? Se o Senhor é Deus, sigam-no; se é Baal, sigam-no. Porém o povo não disse uma só palavra.” (1 Reis 18:19-21). Ali estava uma nação completamente vacilante. Uma das traduções do versículo 21 diz: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos?” E na versão usada aqui: “Até quando vocês ficarão pulando de um lado para outro?” Maldita seja esta “duplicidade”. Está atitude duvidosa. Esta falta de firmeza em confiar no Senhor e na Sua palavra.
“Samech” tem o significado de refúgio. É a Palavra de Deus o nosso refúgio. Tivessem Adão e Eva feito da Palavra do Senhor o seu refúgio outra seria a história. E ao final do Sermão da Montanha, o Senhor Jesus Cristo deixou muito evidente o perigo da duplicidade, da falsidade, quando concluiu o seu ensino afirmando categoricamente: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, nós não profetizamos em seu nome? E em seu nome não expulsamos demônios? E em seu nome não fizemos muitos milagres?’ Então lhes direi claramente: ‘Eu nunca conheci vocês. Afastem-se de mim, vocês que praticam o mal.’ Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela não desabou, porque tinha sido construída sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.” (Mateus 7:21-27).
Os dias de hoje são desafiadores e devemos estar bem atentos para pessoas que fazem excelentes discursos, muito plausíveis, com uma argumentação convincente e com aparência de sabedoria, mas que introduzem o seguinte pensamento: “não é bem assim que Deus disse.” Está é a falsidade satânica, que deixa pessoas vacilantes, em dúvida, e que não conseguem firmar-se no fato que a Palavra de Deus é absolutamente verdadeira. Não há nada para ser atualizado quanto ao conteúdo da Palavra de Deus.
Muito oportuno destacar que o apóstolo Paulo fez um alerta extraordinário sobre isso ao dizer que “o aparecimento do iníquo é segundo a ação de Satanás, com todo poder, sinais e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que estão perecendo, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo que Deus lhes envia a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça.” (2 Tessalonicenses 2:9-12). Percebeu a importância do amor pela verdade, do amor pela Palavra de Deus? Percebeu que está em curso uma “operação do erro”, com pessoas dando crédito à mentira?
Mas o maravilhoso é que este texto enviado aos cristãos de Tessalônica, e também a nós hoje, não termina no verso 12, e podemos continuar a leitura que diz: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vocês, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus os escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade. Foi para isso que também Deus os chamou mediante o nosso evangelho, para que vocês alcancem a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, pois, irmãos, fiquem firmes e guardem as tradições que lhes foram ensinadas, seja por palavra, seja por carta nossa. Que o próprio Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça, console o coração de vocês e os fortaleça em toda boa obra e boa palavra.” (2 Tessalonicenses 2:13-17). Isso é realmente consolador, nestes dias difíceis em que vivemos. Que pela graça de Deus possamos dizer como o salmista: “Detesto a falsidade, porém amo a tua lei.” (Salmo 119:113).
E concluindo, como é precioso saber que o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo tem orado ao Pai por nós assim: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E a favor deles eu me santifico, para que eles também sejam santificados na verdade. Não peço somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por meio da palavra que eles falarem, a fim de que todos sejam um. E como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:17-21).
AGUARDANDO VIGILANTE O ESPOSO
Que noite longa, demorada, tão comprida,
Tão perigosa, traiçoeira, bem escura;
Vigia atento o sentinela na guarida,
Compenetrado e bem armado na postura.
Por todo lado há inimigos traiçoeiros,
As heresias se aproximam numerosas,
Pecados mostram-se, sempre alvissareiros,
São atraentes as mentiras religiosas.
Oh! Como cresce a ímpia infidelidade!
Oh! Como é forte a vil e tola idolatria!
Oh! Como é sempre desprezada a verdade!
Oh! Como aumenta e ganha força a apostasia!
Já está brilhando, ó guarda, a estrela matutina?
Que um novo dia, de esperança, sinaliza?
Que venha logo o sol que tudo ilumina,
Com toda força e de forma tão precisa;
Que afasta as trevas tão escuras deste mundo,
Que traz à Igreja do Senhor o real gozo,
Pois ama a Cristo com amor puro e profundo,
Como uma noiva esperançosa aguarda o esposo!
Gilberto Celeti
“Guarda, falta muito para acabar a noite? Guarda, falta muito?” (Isaías 21:11).