“Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.” (Salmo 119:99).
É sempre necessário nos aproximarmos da Palavra de Deus tendo em mente que “tudo o que no passado foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Romanos 15:4) e também que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o servo de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3:16,17).
Qual ensino, repreensão e educação na justiça, podemos extrair do Salmo 119:99? Longe de imaginarmos uma atitude de orgulho por parte do salmista, consideremos que há situações quando realmente o discípulo vem a superar o seu mestre e vale a pena descobrir como isto acontece.
Há certos líderes, cujas vidas tanto nos inspiram como, por exemplo, José, Moisés e Daniel, que tiveram seus mestres, orientadores, instrutores e que poderiam muito bem dizer como o salmista: “Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.” Todos eles tiveram um período de instrução prolongado e privilegiado.
José no que chamaríamos “escola da vida”, conduzido por circunstâncias tão adversas entre seus próprios irmãos, depois como escravo no Egito até chegar a uma posição de proeminência extraordinária.
A respeito de Moisés lemos que ele “foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras.” (Atos 7:22). Tornou-se um mestre insuperável.
Daniel, juntamente com Hananias, Misael e Azarias, que eram da tribo de Judá, estavam entre tantos outros que foram considerados pelo império da Babilônia, como “jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, sábios, instruídos, versados no conhecimento e que fossem competentes para servirem no palácio real.” E todos eles deveriam passar por um período de instrução para aprenderem “a cultura e a língua dos caldeus.” (Daniel 1:3,4). Após o período de treinamento lemos que estes quatro jovens, “em toda matéria de sabedoria e de inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais sábios do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino. Daniel continuou ali até o primeiro ano do reinado de Ciro.” (Daniel 1:20,21). Há estudiosos que consideram ter sido o salmo 119 escrito por Daniel.
Nos discursos que Moisés fez ao povo de Israel, após os quarenta anos de jornadas pelo deserto, quando estavam para, finalmente, entrar na Canaã prometida por Deus, no último destes discursos, orientando sobre o dever de ensinar a Lei do Senhor, Moisés estabeleceu um princípio que estabelece, de fato, as etapas para que uma pessoa obtenha o verdadeiro aprendizado:
“Reúnam o povo, os homens, as mulheres, as crianças e os estrangeiros que se encontram nas cidades onde vocês moram, para que ouçam, aprendam e temam o Senhor, o Deus de vocês, e cuidem de cumprir todas as palavras desta Lei, e para que os seus filhos que não a souberem ouçam e aprendam a temer o Senhor, seu Deus, todos os dias que viverem na terra em que, passando o Jordão, vocês vão entrar e da qual tomarão posse.” (Deuteronômio 31:10-13)
As etapas estabelecidas são: 1. Ouvir – 2. Aprender – 3. Temer a Deus – 4. Cumprir. O que foi notório nas vidas de José, de Moisés e de Daniel, que mencionamos acima, foi que eles vivenciaram estas etapas todas, especialmente a última: o cuidado para cumprir todas as palavras. Este “cuidado” que se alcança por exatamente meditar na Palavra, como fica claramente estabelecido no Salmo 1:1-3, onde lemos: “Bem-aventurado é aquele que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Pelo contrário, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a uma corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo o que ele faz será bem-sucedido.” Trata-se de uma atitude de obediência à Palavra. Perceba que é isto que diz o salmista: “Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.”
Há um exemplo triste de fracasso nesta área de cumprir a Palavra, quando examinamos a vida de Salomão, que embora fosse tão sábio, não alcançou a mesma posição dos outros três exemplos já mencionados: José, Moisés e Daniel. A razão disso podemos encontrar nesta porção da Escritura Sagrada, num dos discursos também dados por Moisés ao povo de Israel, transmitindo-lhes as instruções do Senhor:
“Quando vocês entrarem na terra que o Senhor, seu Deus, está dando a vocês para que dela tomem posse, e estiverem morando nela, e disserem: ‘Poremos sobre nós um rei, tal como todas as nações que estão ao nosso redor’, vocês certamente porão como rei sobre vocês aquele que o Senhor, seu Deus, escolher. Homem estranho, que não seja do meio dos seus compatriotas, vocês não devem pôr como rei sobre vocês, e sim um do meio dos seus compatriotas. Porém esse rei NÃO DEVE MULTIPLICAR PARA SI CAVALOS, nem fazer o povo voltar ao Egito, para multiplicar cavalos, pois o Senhor já lhes disse: ‘Nunca mais vocês devem voltar por este caminho.’ Esse rei também NÃO DEVE TOMAR PARA SI MUITAS MULHERES, para que o seu coração não se desvie; NEM DEVE ACUMULAR MUITA PRATA E MUITO OURO.” (Deuteronômio 17:14-17).
Salomão fez exatamente o que não deveria fazer:
- Não devia multiplicar para si cavalos – “Os cavalos de Salomão vinham do Egito e da Cilícia, e comerciantes do rei os importavam da Cilícia por certo preço. Importava-se do Egito um carro de guerra por seiscentas moedas de prata e um cavalo por cento e cinquenta. Nas mesmas condições, as caravanas os traziam e os exportavam para todos os reis dos heteus e para os reis da Síria.” (1 Reis 10:28,29)
- Não devia tomar para si muitas mulheres – “Além da filha de Faraó, Salomão amou muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e heteias, mulheres das nações de que o Senhor tinha dito aos filhos de Israel: “Não casem com elas, nem casem elas com vocês, pois perverteriam o coração de vocês, para seguirem os seus deuses.” A estas Salomão se apegou pelo amor. Tinha setecentas mulheres que eram princesas e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração. Sendo já velho, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses, e o coração dele não era fiel ao Senhor, seu Deus, como havia sido fiel o coração de Davi, seu pai.” (1 Reis 11:1-4)
- Não devia acumular muita prata e muito ouro – “O rei Salomão também construiu uma frota de navios em Eziom-Geber, que fica perto de Elate, na praia do mar Vermelho, na terra de Edom. Hirão enviou, com aquela frota, os seus servos, marinheiros conhecedores do mar, para acompanharem os servos de Salomão. Chegaram a Ofir e de lá trouxeram para o rei Salomão mais de catorze toneladas de ouro.” (1 Reis 9:26-28). “O rei fez com que, em Jerusalém, a prata fosse tão comum como as pedras e os cedros fossem tão numerosos como os sicômoros que estão na Sefelá.” (1 Reis 10:27).
E aquilo que ele deveria fazer, lamentavelmente não fez: “Também, quando se assentar no trono do seu reino, mandará escrever num livro uma cópia desta lei, feita a partir do livro que está com os sacerdotes levitas. O rei terá esse livro consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o Senhor, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir.” (Deuteronômio 17:18,19).
Será que Salomão mandou fazer uma cópia do livro da lei? Se chegou a pedir que esta cópia fosse feita, será que dedicou-se a ler todos os dias de sua vida? Ele aprendeu a temer o Senhor? Ele cuidou em guardar todas as palavras e estatutos para os cumprir? O seu descaso para com a Palavra de Deus foi a razão do seu fracasso, embora tivesse sido abençoado por Deus com tanta sabedoria, mais do que qualquer outra pessoa.
Todo o ministério de Jesus foi marcado pela oposição contínua que recebeu da parte dos mestres religiosos, que foram completamente desmascarados por Jesus quando ensinou:
“Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus. Portanto, façam e observem tudo o que eles disserem a vocês, mas não os imitem em suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados, difíceis de carregar, e os põem sobre os ombros dos outros, mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam todas as suas obras a fim de serem vistos pelos outros; pois alargam os seus filactérios e alongam as franjas de suas capas. Gostam do primeiro lugar nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas, das saudações nas praças e de serem chamados de ‘mestre’.” (Mateus 23:2-7). Compreenderá mais do que estes ‘mestres’ todo aquele que meditar na Palavra do Senhor e cuidar de fazer tudo quanto nela está escrito.
Jesus também orientou aos seus discípulos, orientação válida também aos discípulos de todas as épocas: “Mas vocês não serão chamados de ‘mestre’, porque um só é Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. Aqui na terra, não chamem ninguém de ‘pai’, porque só um é o Pai de vocês, aquele que está nos céus. Nem queiram ser chamados de ‘guias’, porque um só é o Guia de vocês, o Cristo. Mas o maior entre vocês será o servo de vocês. Quem se exaltar será humilhado; e quem se humilhar será exaltado.” (Mateus 23:8-12).
Na continuação do ensino de Cristo, neste capítulo 23 de Mateus, encontramos oito vezes a expressão: “Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas”, que não iremos considerar aqui, mas que vale a pena ler e meditar, o grande equívoco que se comete em não seguir pelas quatro etapas estabelecidas: 1. Ouvir – 2. Aprender – 3. Temer a Deus – 4. Cumprir. Examinemos rapidamente estas quatro etapas:
- OUVIR – Uma das palavras mais utilizadas pelo Senhor Jesus, não só quando do seu ministério terreno, como também nas cartas às sete igrejas nos capítulos 2 e 3 do Apocalipse: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 3:22). E nunca nos esqueçamos que “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo.” (Romanos 10:17)
- APRENDER – Este é um dos maiores desafios que encontramos na Palavra de Deus e as exortações para que haja diligência e dedicação para aprender é um dos maiores temas, tanto no Antigo como no Novo Testamento. O autor aos Hebreus menciona uma realidade que se observa em todas as épocas, quando escreveu àqueles crentes: “A esse respeito temos muitas coisas a dizer, coisas difíceis de explicar, porque vocês ficaram com preguiça de ouvir. Pois, quando já deviam ser mestres, levando em conta o tempo decorrido, vocês têm, novamente, necessidade de alguém que lhes ensine quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus. Passaram a ter necessidade de leite e não de alimento sólido.” (Hebreus 5:11,12). Há um estado de infância espiritual muito prolongado entre os crentes, por não se dedicarem com afinco ao aprendizado.
- TEMER A DEUS – Aqui estamos diante de uma realidade espiritual de quem vive consciente de que não há nada que faça, pensa, escute, fale, veja que DEUS não veja. Há muitos que conhecem muito e são mestres até no ensino, mas a semelhança dos fariseus, o que fazem tem como objetivo apenas o de mostrar que sabem. Jesus no sermão da montanha, mencionou três áreas de uma certa aparência de espiritualidade, como o dar esmolas, fazer orações, praticar o jejum, sem nenhuma sintonia com Deus, apenas uma aparência religiosa. Que tristeza. E isso sonda o nosso próprio coração. Como tudo fica diferente quando temos a consciência de estarmos na presença de Deus. Lembremos sempre que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria; conhecer o Santo é ter entendimento.” (Provérbios 9:10).
- CUIDAR DE CUMPRIR A PALAVRA – Aqui está o grande divisor de águas na vida de um discípulo – a prática do aprendizado. Já mencionamos o sermão da montanha. Se examinarmos cada um dos ensinos de Jesus e o que ele coloca como padrão para os que são seus, verificamos como temos dificuldade na obediência. O fato é que não há quem possa atingir este alto padrão. E na conclusão do sermão do monte O Senhor Jesus mostra exatamente dois tipos de alunos: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela não desabou, porque tinha sido construída sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, as multidões estavam maravilhadas com a sua doutrina, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas.” (Mateus 7:24-29).
A realidade é que há muitos que são considerados ‘mestres’, sem ter passado por estas quatro etapas, pois permanecem apenas como ouvintes, mesmo sendo até ensinadores; e acabam ultrapassados por aqueles que avançam para ser realmente praticantes da Palavra. Estes bem podem afirmar: “Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.” (Salmo 119:99).
O apóstolo Tiago deixou isto muito claro ao escrever, da parte do Senhor: “Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se àquele que contempla o seu rosto natural num espelho; pois contempla a si mesmo, se retira e logo esquece como era a sua aparência. Mas aquele que atenta bem para a lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte que logo se esquece, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.” (Tiago 1:22-25).
Agora, entre aqueles que têm como mestre o Senhor Jesus Cristo, o Mestre dos mestres, nunca, jamais, haverá alguém que possa fazer uma tal afirmação como a do salmista no Salmo 119:99. O desafio que Jesus Cristo deixa é este: “O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem-instruído será como o seu mestre.” (Lucas 6:40). Lemos também que “antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai” (João 13:1), após ter lavado os pés de seus discípulos, Jesus lhes disse: “Vocês me chamam de Mestre e de Senhor e fazem bem, porque eu o sou. Ora, se eu, sendo Senhor e Mestre, lavei os pés de vocês, também vocês devem lavar os pés uns dos outros. Porque eu lhes dei o exemplo, para que, como eu fiz, vocês façam também. Em verdade, em verdade lhes digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se vocês sabem estas coisas, bem-aventurados serão se as praticarem.” (João 13:13-17).
Na conversa com os discípulos, nesta mesma ocasião, Jesus lhes disse: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e o meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras. E a palavra que vocês estão ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou. Tenho dito isso enquanto ainda estou com vocês. Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu lhes disse.” (João 14:23-26).
Que precioso ter o Espírito Santo a nos conduzir, levando-nos a amar ao Senhor e a guardar a Sua Palavra, ensinando todas as coisas, para que possamos ser mais parecidos com Jesus! Que aprendamos com o Salmo 119:99, que o meditar na Palavra deve ser nossa prioridade: Ouvir, aprender, temer ao Senhor e cuidar de guardar e obedecer às injunções da Sua Palavra, podem nos levar a compreender mais do que nossos mestres humanos, mas nunca acima do nosso amado Senhor e Salvador.
E que a semelhança do apóstolo Paulo que, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, queria crescer no conhecimento de Cristo e vivia para esta finalidade, vivamos também desta forma, afirmando bem conscientes, como ele: “Não que eu já tenha recebido isso ou já tenha obtido a perfeição, mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficam para trás e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:8-14). Ainda temos muito, e muito, e muito a percorrer, portanto cresçamos “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno.” (2 Pedro 3:18).
JESUS NO CENTRO
Só falta uma coisa
No centro do ser:
Ser cheio de Cristo,
E ao Pai conhecer!
Que Cristo ocupe
A parte suprema,
E do pensamento
Ele seja o tema!
Jesus é o centro
De toda a Escritura,
Só vivendo nEle
Se alcança alma pura.
Jesus é o Centro
De toda história,
Só andando nEle
Teremos vitória.
Jesus é o centro
E o cabeça da Igreja
Firmada só nEle
Minha vida esteja!
Jesus é o centro
O mestre e o modelo,
Que eu viva pra Ele
Com todo o desvelo!