“A minha vida está sempre em perigo; no entanto, não me esqueço da tua lei.” (Salmo 119:109).
Continuando a meditar nos versículos do Salmo 119, chegamos ao 109 cujas primeiras palavras são: NAFËSHY VËKHAPY. Novamente a primeira palavra, como a de todos os versos deste bloco de oito versículos (105 a 112) começa com a letra “Nun.
Aqui o significado literal é: “Minha alma está em minha mão”, cuja versão Nova Almeida Atualizada traduziu como “A minha vida está sempre em perigo”.
Esta palavra do salmista, como que uma oração diante do Senhor, foi sem dúvida a oração de uma galeria de homens e mulheres que ao longo dos séculos, desde Abel, tem confiado no Senhor e na Sua Palavra, sem esquecê-la, pelo contrário, trazendo sempre os pensamentos de Deus à sua memória, embora precisando enfrentar os perigos que se deparam a cada momento, lutando pela sobrevivência, numa guerra contínua com as forças da maldade.
O fato é que a nossa própria alma é a maior das preciosidades que temos e é tão frágil. Ela precisa ser tratada com todo cuidado e carinho, pois corre perigo de ser arruinada, assim como um frasco de um perfume valiosíssimo, também tão frágil, pode facilmente cair e se quebrar.
Deus fala por meio do profeta: “A alma que pecar, essa morrerá.” (Ezequiel 18:20). E Jesus contou esta parábola: “O campo de um homem rico produziu com abundância. Então ele começou a pensar: ‘Que farei, pois não tenho onde armazenar a minha colheita?’ Até que disse: ‘Já sei! Destruirei os meus celeiros, construirei outros maiores e aí armazenarei todo o meu produto e todos os meus bens. Então direi à minha alma: Você tem em depósito muitos bens para muitos anos; descanse, coma, beba e aproveite a vida.’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Esta noite lhe pedirão a sua alma; e o que você tem preparado, para quem será?’ Assim é o que ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para com Deus.” (Lucas 12:16-21). A qualquer momento, nossa alma poderá ser ceifada. Todos estão em perigo constante.
O fato inquestionável é este: “… onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração.” (Mateus 6:21). Ao que nossa “alma” está unida? E ainda, pensemos cuidadosamente nestas palavras proferidas pelo Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus: “De que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria uma pessoa em troca de sua alma?” (Marcos 8:36,37).
Multidões arruínam suas almas eternamente porque preferem permanecer na prática do pecado, que ofende ao Criador, Deus Santo, e rejeitam as boas novas da salvação e do amor de Deus, tão claramente expressas neste texto da Palavra de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é condenado; mas o que não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus. A condenação é esta: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal detesta a luz e não se aproxima da luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” (João 3:16-21).
Bendito aquele que se arrepende de seus pecados, crê no Senhor Jesus Cristo, recebendo-o como Seu Senhor e Salvador, tornando-se a partir de então um filho de Deus, conforme está escrito: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (João 1:12,13).
Nesta nova condição, embora enfrentando sempre situações adversas, se fortalece no Senhor buscando sempre descobrir o que é agradável a Deus e levando à sério as recomendações da Palavra, como esta, por exemplo: “E não sejam cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, tratem de reprová-las. Pois aquilo que eles fazem em segredo é vergonhoso até mencionar. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo o que se manifesta é luz. Por isso é que se diz: ‘Desperte, você que está dormindo, levante-se dentre os mortos, e Cristo o iluminará.’ Portanto, tenham cuidado com a maneira como vocês vivem, e vivam não como tolos, mas como sábios, aproveitando bem o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor. E não se embriaguem com vinho, pois isso leva à devassidão, mas deixem-se encher do Espírito, falando entre vocês com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando com o coração ao Senhor, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Efésios 5:10-20). Eis o desafio: estarmos com o recipiente de nossa vida, de nossa alma, cheio do Espírito Santo de Deus! E podendo dizer como o salmista: “A minha vida está sempre em perigo; no entanto, não me esqueço da tua lei.” (Salmo 119:109).
Era isto que também podia dizer Davi, que desde bem jovem, ungido por Deus para ser o rei de Israel, correu risco de vida diariamente, com anos de perseguição de Saul conta ele. Davi, literalmente, trazia a sua alma nas mãos, como uma vasilha frágil, sabendo que poderia ser esmagado a qualquer momento. Ele inclusive escreveu muitos de seus salmos estando debaixo de grande aflição, perseguição e em situação de risco mortal, pois o rei Saul havia falado ao seu filho “Jônatas e a todos os servos sobre matar Davi.” (1 Samuel 19:1).
Lemos que “Jônatas, filho de Saul, era muito afeiçoado a Davi. Por isso, Jônatas revelou esse plano a Davi, dizendo: Meu pai, Saul, quer matar você. Tenha cuidado amanhã cedo. Fique num lugar oculto e esconda-se. Eu sairei e estarei ao lado de meu pai no campo onde você estiver. Falarei com meu pai a respeito de você. Se eu descobrir alguma coisa, contarei a você. Então Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e lhe disse: Que o rei não peque contra o seu servo Davi, porque ele não pecou contra você. Pelo contrário, o que ele tem feito é muito bom para você. Arriscando a sua vida, ele matou o filisteu e o Senhor efetuou grande livramento a todo o Israel. Você mesmo viu isso e ficou contente. Por que, então, você pecaria contra sangue inocente, matando Davi sem motivo? Saul atendeu à voz de Jônatas e jurou: Tão certo como vive o Senhor, ele não morrerá. Jônatas chamou Davi, contou-lhe todas estas palavras e o levou a Saul. E Davi esteve diante de Saul como antes.” (1 Samuel 19:2-7).
Continuando a leitura do capítulo, embora Davi estivesse restaurado ao convívio do palácio e fosse casado com uma das filhas de Saul, lemos que um espírito mau veio sobre Saul, que “estava sentado em sua casa, com a sua lança na mão, enquanto Davi dedilhava a harpa. Saul tentou encravar Davi na parede, porém ele se desviou e a lança foi se encravar na parede. Então Davi fugiu e escapou. Porém, naquela mesma noite, Saul mandou mensageiros à casa de Davi, que o vigiassem, para ele o matar pela manhã. Porém Mical, a mulher de Davi, o avisou: Se não fugir esta noite, amanhã você estará morto. Então Mical desceu Davi por uma janela, e ele se foi, fugiu e escapou.” (1 Samuel 19:9-12).
O fato é que esta experiência de viver sempre em constante perigo era a rotina de Davi, e mesmo quando veio a pecar de maneira até vergonhosa, buscou ao Senhor arrependido e deixou-nos registradas estas palavras: “Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste. Esconde o teu rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me lances fora da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará o teu louvor. Pois não te agradas de sacrifícios; do contrário, eu os ofereceria; e não tens prazer em holocaustos. Sacrifício agradável a Deus é o espírito quebrantado; coração quebrantado e contrito, não o desprezarás, ó Deus.” (Salmo 51:7-17).
No Novo Testamento, podemos observar que a rotina do apóstolo Paulo, como ministro de Cristo, era de estar constantemente correndo perigo, envolvido em muitos trabalhos; em prisões, muito mais; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Paulo demonstra, muito bem, como ele carregava a alma, com todo cuidado, em suas mãos, estando sempre com sua vida correndo perigo quando escreveu: “Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas. Uma vez fui apedrejado. Três vezes naufraguei. Fiquei uma noite e um dia boiando em alto mar. Em viagens, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de assaltantes, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. Além das coisas exteriores, ainda pesa sobre mim diariamente a preocupação com todas as igrejas. Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não fique indignado?” (2 Coríntios 11:23-29).
E nós, hoje? Eu recomendaria a leitura do “Livro dos Mártires” escrito por John Foxe, inglês, nascido em 1517 e falecido em 1587, que narra a história de sofrimento e perseguição que os cristãos experimentaram século a século. Trata-se de um livro com 22 capítulos, sendo que os últimos 7 capítulos trazem também informações sobre a continuidade das perseguições ocorridas aos a morte do John Foxe até o início das missões americanas entre os anos 1800 a 1820. Um livro que conta de maneira comovente como os cristãos em todas as épocas têm falado como o salmista: “A minha vida está sempre em perigo; no entanto, não me esqueço da tua lei.” (Salmo 119:109) e inclusive sido martirizados.
E do século 18 até este início do século 21, como tem sido a história? A mesma! Há milhares e milhares de mártires cristãos que, a cada ano, têm sido literalmente martirizados. A perseguição aos cristãos se vê cada dia mais forte e evidente. “Na verdade, todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2 Timóteo 3:12).
E nunca nos esqueçamos que precisamos diariamente estar fortalecidos no Senhor e na força do seu poder e vestidos com toda a armadura de Deus, tenhamos poder para “ficar firmes contra as ciladas do diabo. Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais.” O fato é que somente vestido com toda a armadura de Deus é que poderemos resistir no dia mau e, depois de termos vencido tudo, permanecer inabaláveis. (Efésios 6:10-13).
Sabendo que fomos redimidos pelo precioso sangue de Cristo, e que temos o tesouro do Espírito Santo em nós, vasos frágeis de barro, podemos muito bem nos juntar ao salmista e dizer: “A minha vida está sempre em perigo; no entanto, não me esqueço da tua lei.” (Salmo 119:109).
E podemos afirmar: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que a excelência do poder provém de Deus, não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; ficamos perplexos, porém não desanimados; somos perseguidos, porém não abandonados; somos derrubados, porém não destruídos. Levamos sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida dele se manifeste em nosso corpo.” (2 Coríntios 4:7-10).
Como todos os que nos precederam, seja nos tempos do Antigo Testamento, seja nos tempos agora da Igreja de Cristo, ficaremos firmes confiando no Senhor e na Sua Palavra e diremos também: “Por isso não desanimamos. Pelo contrário, mesmo que o nosso ser exterior se desgaste, o nosso ser interior se renova dia a dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória, acima de toda comparação, na medida em que não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem. Porque as coisas que se veem são temporais, mas as que não se veem são eternas.” (2 Coríntios 4:16-18). Nosso tesouro não está aqui neste mundo. Nosso tesouro é Jesus Cristo! E Ele nos prometeu: “E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos.” (Mateus 28:20).
EU TE AJUDO!
O contexto desta vida é de perigos,
Sempre surgem perigosos inimigos.
Que será tudo tranquilo, não se iluda;
E não dá pra desprezar nenhuma ajuda.
Certas lutas são intensas e apavoram,
E as ajudas como que se evaporam.
Tomam conta o desespero e a fraqueza,
E mergulham a nossa alma na incerteza.
Nestas horas só a presença do Deus Vivo,
Vem e anima com poder confortativo,
Ele diz: Não te assombres. Eu te ajudo.
Fortaleço-te para que enfrentes tudo,
Pouco importa a circunstância e momento,
Com a minha destra, que é fiel, eu te sustento!
Gilberto Celeti
“… não tema, porque eu estou com você; não fique com medo, porque eu sou o seu Deus. Eu lhe dou forças; sim, eu o ajudo; sim, eu o seguro com a mão direita da minha justiça.” (Isaias 41:10).