“Laços de perversos me cercam, mas não me esqueço da tua lei.” (Salmo 119:61).
Estamos considerando este bloco de 8 versículos (Salmo 119:57-64), que iniciam, no hebraico, com a oitava letra “Chet” ou “Heth”, como que expressando uma vida devotada ao Senhor, com amor para com Ele e Sua Palavra. O salmista inicia dizendo: “O Senhor é a minha porção” (57). Continua se apresentando diante do Senhor “de todo o coração” (58). Ele analisa seus caminhos e volta os seus passos para o caminho da Palavra do Senhor (59), e faz isso diligentemente, sem demora, sem procrastinação (60). E o que lhe acontece?
O verso 61 mostra o que tem acontecido em toda história, desde o início – o justo sempre é perseguido, e muitas vezes por pessoas que são religiosas. Certa ocasião num confronto com fariseus e interpretes da lei, Jesus assim falou: “Por isso, também disse a sabedoria de Deus: ‘Mandarei para eles profetas e apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão’, para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o santuário. Sim, eu afirmo a vocês que se pedirão contas a esta geração.” (Lucas 11:49-51).
Jesus nomeou Abel como o pioneiro deste grupo de servos de Deus que, desde a fundação do mundo” até hoje tem sido alvo dos laços de perversos. Ele é também o primeiro mencionado no capítulo 11 da carta aos Hebreus, onde encontramos uma lista de muitos outros como ele. E lemos sobre ele o seguinte: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício mais excelente do que Caim, pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio da fé, mesmo depois de morto, ainda fala.” (Hebreus 11:4). Observe bem que unicamente por ter oferecido um sacrifício no qual havia sangue derramado, ele obteve testemunho de ser justo.
A marca dos justos é exatamente esta: não que eles sejam justos em si e por si mesmos, mas porque cientes que o castigo pelo seu próprio pecado é a morte, confiam na provisão estabelecida por Deus, de terem um substituto inocente, sem pecado, que pague com a sua morte em seu próprio lugar. Esta verdade é inexorável: “Sem derramamento de sangue não há remissão.” (Hebreus 9:22).
E lemos e aprendemos sobre Caim, pessoa também que procurou aproximar-se de Deus, mostrando-se portanto “religioso”, mas não confiando na provisão estabelecida por Deus. Caim considerou que fazendo o melhor que podia, sentia e sabia fazer, isso seria mais do que suficiente para agradar a Deus. No entanto, por que razão ele matou ao seu irmão Abel? O apóstolo João deixou isto muito claro ao escrever: “Não sejamos como Caim, que era do Maligno e matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão eram justas. Irmãos, não se admirem se o mundo odeia vocês.” (1 João 3:12,13).
Há uma história de perseguição e poderíamos mencionar as lutas e angústias experimentadas por homens como José, Moisés, Davi, Elias, Jeremias, Daniel, e tantos outros. Uma relação de homens e mulheres “os quais, por meio da fé, conquistaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam de ser mortos à espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos na guerra, puseram em fuga exércitos estrangeiros. Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de zombarias e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, serrados ao meio, mortos ao fio da espada. Andaram como peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras; passaram por necessidades, foram afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles. Andaram errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.” (Hebreus 11:33-38).
O salmista está incluído entre estes, enfrentando difamação, hostilidade, perseguição. Davi, chamado de o “suave salmista de Israel” (2 Samuel 23:1), sobre quem temos, da parte do Senhor o seguinte testemunho: “Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade” (Atos 13:22), enfrentou anos de intensa hostilidade e perseguição. Num dos seus salmos, que sem nenhuma dúvida expressa o sentimento e o pensamento do salmista neste Salmo 119:61, Davi assim escreveu: “Ouve, ó Deus, a minha voz na minha queixa; preserva a minha vida do terror do inimigo. Esconde-me da conspiração dos malfeitores e do tumulto dos que praticam a iniquidade. Eles afiam a língua como espada e apontam, quais flechas, palavras amargas, para, às escondidas, atingirem o íntegro; contra ele disparam repentinamente e não temem. Teimam no mau propósito; falam em secretamente armar ciladas, e dizem: ‘Quem nos verá?’ Planejam iniquidades e dizem: ‘O plano que fizemos é perfeito!’ Os pensamentos e o coração de cada um deles são um abismo. Mas Deus atira contra eles uma flecha; de repente, ficarão feridos. Assim, serão levados a tropeçar; a própria língua se voltará contra eles; todos os que os veem balançam a cabeça. Todas as pessoas temerão, e anunciarão as obras de Deus, e entenderão o que ele faz. O justo se alegra no Senhor e nele confia; e se gloriam todos os retos de coração.” (Salmos 64:1-10).
É impressionante conhecer também um pouco do profeta Jeremias, que sendo chamado por Deus ouviu estas palavras: “Pronunciarei as minhas sentenças contra os moradores dessas cidades, por causa de toda a maldade deles; pois me abandonaram, queimaram incenso a deuses estranhos e adoraram as obras das suas próprias mãos. Você, Jeremias, prepare-se e vá dizer-lhes tudo o que eu ordenar a você. Não se assuste por causa deles, para que eu não tenha de fazer com que você fique assustado na presença deles. Quanto a mim, eis que hoje ponho você por cidade fortificada, por coluna de ferro e por muralha de bronze, contra todo o país, contra os reis de Judá, contra as suas autoridades, contra os seus sacerdotes e contra o seu povo. Eles lutarão contra você, mas não conseguirão derrotá-lo; porque eu estou com você para livrá-lo, diz o Senhor.” (Jeremias 1:16-19). Jeremias sabia, como Deus mesmo lhe falou, que haveria de enfrentar difamação, hostilidade e perseguição. E fazendo um breve resumo de sua história o que descobrimos?
- Jeremias 11:18-21 – NÃO QUERIAM OUVÍ-LO (Não queriam ouvir a Palavra de Deus da qual ele era o porta-voz) “O Senhor me contou e eu fiquei sabendo; tu me mostraste o que eles estavam planejando. Eu era como um cordeiro manso, que é levado ao matadouro. Eu não sabia que tramavam contra mim, dizendo: ‘Vamos destruir a árvore com seu fruto. Vamos cortá-lo da terra dos viventes, para que ninguém mais lembre do nome dele.’ Mas, ó Senhor dos Exércitos, justo Juiz, que provas o mais íntimo do coração, permite que eu veja a tua vingança contra eles, pois te confiei a minha causa. Portanto, assim diz o Senhor a respeito dos homens de Anatote que querem me ver morto e dizem: Não profetize em nome do Senhor, para que não o matemos.”
- Jeremias 19:14,15; 20:1,2 – FOI AÇOITADO E PRESO NO TRONCO SIMPLESMENTE POR ANUNCIAR A MENSAGEM DE DEUS – “Jeremias voltou de Tofete, lugar para onde o Senhor o tinha enviado para profetizar, pôs-se em pé no átrio da Casa do Senhor e disse a todo o povo: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: ‘Eis que trarei sobre esta cidade e sobre todos os povoados vizinhos todas as calamidades que pronunciei contra ela, porque foram teimosos e não deram ouvidos às minhas palavras.’ Pasur, filho do sacerdote Imer, que era superintendente da Casa do Senhor, ouviu Jeremias profetizando estas coisas e por isso mandou que o profeta fosse açoitado e preso no tronco que ficava junto ao portão superior de Benjamim, na Casa do Senhor.”
- Jeremias 20:7-10 – SEUS PRÓPRIOS AMIGOS ÍNTIMOS ESPERAVAM QUE ELE TROPEÇASSE – “Tu me persuadiste, Senhor, e eu fui persuadido. Foste mais forte do que eu e prevaleceste. Sou motivo de riso o dia inteiro; todos zombam de mim. Porque, sempre que falo, tenho de gritar e clamar: “Violência e destruição!” Por causa da palavra do Senhor, sou objeto de deboche e de zombaria o tempo todo. Quando pensei: ‘Não me lembrarei dele e não falarei mais em seu nome’, então isso se tornou em meu coração como um fogo, encerrado nos meus ossos. Estou cansado de sofrer e não posso mais. Porque ouvi a murmuração de muitos: ‘Há terror por todos os lados! Denunciem, e nós o denunciaremos!’ Todos os meus amigos íntimos esperam que eu tropece e dizem: ‘Talvez ele se deixe persuadir; então nós o venceremos e dele nos vingaremos.’”
- Jeremias 37:15,16 – AÇOITADO E APRISIONADO NO CALABOUÇO – “As autoridades, iradas contra Jeremias, açoitaram-no e o prenderam na casa de Jônatas, o escrivão. Essa casa tinha sido transformada em prisão. Assim, Jeremias foi levado às celas do calabouço, onde ficou por muitos dias.”
- Jeremias 38:3-6 – COLOCADO NUMA CISTERNA CHEIA DE LAMA – “Assim diz o Senhor: ‘Esta cidade infalivelmente será entregue nas mãos do exército do rei da Babilônia, e este a tomará.’ Então as autoridades disseram ao rei: Este homem tem de ser morto, porque, dizendo essas palavras, desfalece as mãos dos homens de guerra que restam nesta cidade e as mãos de todo o povo. Este homem não procura o bem-estar do povo, e sim o mal. O rei Zedequias respondeu: Eis que ele está nas mãos de vocês, pois o rei nada pode fazer contra vocês. Então eles pegaram Jeremias e o lançaram na cisterna de Malquias, filho do rei, que ficava no pátio da guarda. Desceram Jeremias com cordas. Na cisterna não havia água, apenas lama; e Jeremias se atolou na lama.”
O fato é que, a força violenta de toda a oposição perversa era, tão somente, porque ele transmitia a Palavra de Deus. Ele não se esquecia da Palavra de Deus. Ele praticava a Palavra de Deus. Estes laços de perversos que o cercavam, como também acontecia com o salmista, no entanto, não eram mais fortes do que o amor ao Senhor e à sua Palavra: “Laços de perversos me cercam, mas não me esqueço da tua lei.” (Salmo 119:61).
Sem dúvida, a principal pessoa, a quem estas palavras se aplicam é a pessoa do Senhor Jesus Cristo. Ele é o maior exemplo, pois sendo ungido com o Espírito Santo e poder “andou por toda parte, fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus estava com ele.” (Atos 10:38). E o que aconteceu com ele? Como foi ele tratado? Sem entrar nos detalhes do cruel tratamento que ele recebeu até ser finalmente pregado na cruz, perceba em três pregações do apóstolo Pedro, quem de fato O odiava:
- Atos 2:21-23 – “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” Israelitas, escutem o que vou dizer: Jesus, o Nazareno, homem aprovado por Deus diante de vocês com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou entre vocês por meio dele, como vocês mesmos sabem, a este, conforme o plano determinado e a presciência de Deus, VOCÊS mataram, crucificando-o por meio de homens maus. Porém Deus o ressuscitou, livrando-o da agonia da morte, porque não era possível que fosse retido por ela.”
- Atos 3:13-15 – “O Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, o Deus dos nossos pais, glorificou o seu Servo Jesus, a quem vocês traíram e negaram diante de Pilatos, quando este já havia decidido soltá-lo. Vocês negaram o Santo e o Justo e pediram que fosse solto um assassino. Vocês mataram o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas.”
- Atos 4:25-28 – “Disseste por meio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: “Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Os reis da terra se levantaram, e as autoridades se juntaram contra o Senhor e contra o seu Ungido.” Porque de fato, nesta cidade, HERODES E PÔNCIO PILATOS, COM GENTIOS E GENTE DE ISRAEL, se juntaram contra o teu santo Servo Jesus, a quem ungiste, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram.”
Jesus falou “do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias” (Lucas 11:50,51), e esta história continua, desde João Batista, que teve sua cabeça cortada, até aqueles que haverão de completar o número dos que serão mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que darão, como ficamos sabendo na leitura de Apocalipse 6:9-11: “…Vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. Clamaram com voz forte, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então a cada um deles foi dada uma veste branca, e lhes foi pedido que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como eles tinham sido.”
Jesus fez uma declaração categórica em João 15:18,19: “Se o mundo odeia vocês, saibam que, antes de odiar vocês, odiou a mim. Se vocês fossem do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas vocês não são do mundo — pelo contrário, eu dele os escolhi — e, por isso, o mundo odeia vocês.” O apóstolo Paulo que experimentou incontáveis sofrimentos e perseguições também foi categórico quando disse: “Na verdade, todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2 Timóteo 3:12).
Um destaque precisa ser feito. Todos quantos tem sido hostilizados, zombados e perseguidos, o são única e exclusivamente pelo fato de serem “justos”. Eles não se consideram melhores do que os outros, pelo contrário, são simplesmente conscientes que foram comprados e lavados pelo sangue de Cristo, e que, sendo agora povo de propriedade exclusiva de Deus, andam e vivem neste mundo “a fim de proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pedro 2:9).
Eles são perseguidos, não porque defendem esta ou aquela causa, ou porque fizeram alguma coisa errada, ou por alguma prática fanática. O apóstolo Pedro deu estar preciosa orientação: “Se são insultados por causa do nome de Cristo, vocês são bem-aventurados, porque o Espírito da glória, que é o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. Que nenhum de vocês sofra como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se mete na vida dos outros. Mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe; pelo contrário, glorifique a Deus por causa disso.” (1 Pedro 4:14-16).
Não temos nada com que nos meter na vida dos outros. Temos que ter sabedoria para atender ao ensino de Jesus: “Eis que eu os envio como ovelhas para o meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles os entregarão aos tribunais e os açoitarão nas suas sinagogas. Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios. E, quando entregarem vocês, não se preocupem quanto a como ou o que irão falar, porque, naquela hora, lhes será concedido o que vocês dirão. Afinal, não são vocês que estão falando, mas o Espírito do Pai de vocês é quem fala por meio de vocês.” (Mateus 10:16-20).
Vivemos dias de grande perseguição, em várias partes do mundo, mas é preciso entender que nem sempre a perseguição é por causa de um andar e viver como Jesus andou e viveu, e sim porque se defende ideias e princípios motivados por assuntos econômicos, sociais, políticos etc. Nossa postura deve ser sempre a de demostrar em nossas vidas o fruto do Espírito Santo, com suas nove qualidades, ou seja: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.” (Gálatas 5:22,23). Percebe como termina este versículo? Contra estas coisas não há lei!
Finalmente, em toda a história, a maior parte das vezes, as perseguições, hostilidades, prisões e mortes ocorreram pelos lábios e pelas mãos dos que se autodeclaravam religiosos. Você já reparou nisso? Não vieram de pessoas de fora, mas de dentro. Que enquanto caminhamos neste mundo, confessando que somos estrangeiros e peregrinos na terra, “porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, desejam uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porque lhes preparou uma cidade” (Hebreus 11:13-16) andemos como Cristo andou e falemos como o salmista: “Laços de perversos me cercam, mas não me esqueço da tua lei.” (Salmo 119:61).