“Ensina-me, Senhor, o caminho dos teus decretos, e os seguirei até o fim” (Salmo 119:33).
Este salmo acróstico é um tesouro inesgotável. Começamos hoje com o quinto grupo de oito versículos, todos começando com a 5ª letra do Alfabeto Hebraico – a letra HÊ. No nome Jeová, impronunciável para os judeus, aparecem duas letras Hê. Interessante que quando os nomes de Abrão e Sarai foram mudados para Abraão e Sara, foi esta letra Hê que foi acrescentada aos seus antigos nomes. Pelo fato de a letra ter a aparência de um homem com os braços abertos, pode se tirar a ideia da importância de um coração aberto para a presença de Deus, para que Ele ilumine, oriente, revele a Sua vontade.
Neste bloco de 8 versículos, iniciados com Hê, o salmista expressa sua grande necessidade de conhecer melhor os decretos, os mandamentos, a lei, a Palavra de Deus. Ele deseja exatamente compreender melhor o ensino do Senhor. Ele pede para que Deus mesmo seja o seu Mestre.. No versículo 12 ele já havia feito este pedido: “Bendito és tu, Senhor; ensina-me os teus decretos”, mas neste bloco ele insiste pedindo a Deus sabedoria na Palavra.
No Antigo Testamento Moisés ocupa uma posição proeminente, por sua instrumentalidade na libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e também por ter escrito o Pentateuco, os primeiros cinco livros da Bíblia. Ele foi quem recebeu diretamente de Deus as tábuas da lei contendo os Dez Mandamentos. No livro de Deuteronômio, quando Israel está para entrar na Terra Prometida, depois de quarenta anos de caminhada pelo deserto, Moisés faz vários discursos para o povo, em todos eles enfatizando a importância e a singularidade da Palavra de Deus, que deveria ser ensinada, compreendida e praticada.
Veja esta mensagem de Moisés: “Eis que eu lhes tenho ensinado estatutos e juízos, como o Senhor, meu Deus, me ordenou, para que vocês os cumpram na terra que passarão a possuir. Portanto, guardem e cumpram essas leis, porque isto será a sabedoria e o entendimento de vocês aos olhos dos povos que, ouvindo todos esses estatutos, dirão: ‘De fato, este grande povo é gente sábia e inteligente.’ Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje eu lhes proponho? — Tão somente tenham cuidado e guardem bem a sua alma, para que vocês não se esqueçam daquelas coisas que os seus olhos têm visto, e elas não se afastem do seu coração todos os dias da sua vida. Vocês também contarão isso aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos” (Deuteronômio 4:5-9).
Percebemos no salmista esta preocupação. Ele deseja ser ensinado, ele quer ter um aprendizado, diretamente do Senhor, e de forma contínua. Ele quer seguir no caminho dos decretos de Deus até o fim. Percebemos este anseio em não querer se afastar, nem por um milímetro para um lado ou para outro, nada de desviar para a direita ou para a esquerda, e muito menos olhar para trás. Há uma vereda a ser seguida até o fim, e ele pede ao Senhor que o esclareça, que o ensine, que o instrua, que lhe indique como ele deve proceder
Muitos anos depois do salmista ter escrito o salmo 119, Neemias no retorno do cativeiro, em sua oração, registra como tinha sido tão triste a história do povo de Israel: “Porém eles, os nossos pais, se tornaram arrogantes e teimosos, e não deram ouvidos aos teus mandamentos. Recusaram ouvir-te e não se lembraram das tuas maravilhas, que fizeste no meio deles. Foram teimosos e na sua rebelião escolheram um chefe, com o propósito de voltarem para a sua servidão no Egito. Porém tu, ó Deus perdoador, bondoso e compassivo, tardio em irar-te e grande em bondade, tu não os abandonaste…….A coluna de nuvem nunca se afastou deles durante o dia, para os guiar pelo caminho, nem a coluna de fogo durante a noite, para iluminar o caminho por onde deviam seguir. E lhes concedeste o teu bom Espírito, para os ensinar” (Neemias 9:16-20).
Por causa desta tendência de não dar ouvidos ao ensino da Palavra de Deus, encontramos textos que precisam ser sempre considerados pelo povo de Deus:
> Salmo 32:8,9 – “Eu o instruirei e lhe ensinarei o caminho que você deve seguir; e, sob as minhas vistas, lhe darei conselho. Não sejam como o cavalo ou a mula, que não têm entendimento, que são dominados com freios e cabrestos; do contrário não obedecem a você”.
> Salmo 25:8-15 – “Bom e reto é o Senhor, por isso aponta o caminho aos pecadores. Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho. Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade para os que guardam a sua aliança e os seus testemunhos. Por causa do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniquidade, que é grande. Àquele que teme o Senhor, ele o instruirá no caminho que deve escolher. Na prosperidade repousará a sua alma, e a sua descendência herdará a terra. O Senhor confia o seu segredo aos que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança. Os meus olhos se elevam continuamente ao Senhor, pois ele tirará os meus pés do laço”.
> Provérbios 8:32-36 – “Agora, meus filhos, escutem o que eu digo, porque felizes são os que guardam os meus caminhos. Ouçam o ensino, sejam sábios e não o rejeitem. Feliz é aquele que me ouve, vigiando dia após dia diante das minhas portas, esperando na entrada da minha casa. Pois quem me encontra encontra a vida e alcança favor do Senhor. Mas quem peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que me odeiam amam a morte”.
Quando chegamos ao Novo Testamento, encontramos Jesus Cristo, infinitamente superior a Moisés. Quando no Monte da Transfiguração, embora estivessem ali Moisés, Elias e Jesus, deixando os três discípulos maravilhados, num momento uma nuvem os encobriu, uma voz se ouviu “Este é o meu Filho amado, a Ele ouvi!” e os discípulos só viram a Jesus, o Mestre Supremo.
Logo no início do seu segundo livro, Atos, lemos estas palavras de Lucas: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até o dia em que foi elevado às alturas, depois de haver dado mandamentos por meio do Espírito Santo aos apóstolos que tinha escolhido” (Atos 1:1,2). Veja que o resumo da vida de Jesus está no que Ele fez e ensinou. Quanto ensino!
Certa ocasião Jesus dirigiu esta palavra aos judeus: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos Profetas: ‘E todos serão ensinados por Deus.’ Portanto, todo aquele que ouviu e aprendeu do Pai, esse vem a mim” (João 6:44,45). Outra ocasião ele afirmou: “O meu ensino não é meu, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo. Quem fala por si mesmo está buscando a sua própria glória; mas o que busca a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há falsidade” (João 7:16-18). E nas últimas instruções aos seus discípulos orientou-lhes: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu lhes disse” (João 14:26).
Estamos dispostos a orar como o salmista? Orar assim: “Ensina-me, Senhor, o caminho dos teus decretos, e os seguirei até o fim” (Salmo 119:33). Lembre que foi Jesus quem disse: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lucas 9:62).
A ordem de Jesus para os seus é SEGUE-ME. Como foi nos dias de Jesus, o mesmo ocorre hoje: “Grandes multidões acompanhavam Jesus, e ele, voltando-se, lhes disse:
“Se alguém vem a mim e não me ama mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua mulher, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E quem não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual de vocês, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não acontecer que, tendo lançado os alicerces e não podendo terminar a construção, todos os que a virem zombem dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde acabar” (Lucas 14:25-30).
E este texto termina com este ensino: “Assim, pois, qualquer um de vocês que não renuncia a tudo o que tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33).
Na vida cristã, é preciso começar bem, continuar bem e terminar bem, por esta razão temos um texto tão importante que diz: “Lembrem-se dos seus líderes, os quais pregaram a palavra de Deus a vocês; e, considerando atentamente o fim da vida deles, imitem a fé que tiveram” (Hebreus 13:7).
Eis o desafio: “Ensina-me, Senhor, o caminho dos teus decretos, e os seguirei até o fim” (Salmo 119:33). O ensino do caminho dos decretos de Deus, são de suma importância. Isto é muito claro em toda a Escritura Sagrada. E o Senhor Jesus Cristo, antes de retornar para a glória do céu, deixou-nos esta ordem clara: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28:18-20).
Que estejamos entre aqueles que seguindo nas pegadas de Paulo possam afirmar: “Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Na verdade, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele perdi todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, mas aquela que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:7-9).
E tenhamos cuidado para não sermos arrastados pelo erro e pelos ventos de doutrina que sopram por todos os lados e que podem nos levem a cair da posição segura em que nos encontramos (2 Pedro 3:17). E que entregues “aos cuidados de Deus e à palavra da sua graça, que tem poder” para nos edificar e nos dar herança entre todos os que são santificados, (Atos 20:32), cresçamos “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2 Pedro 3:18).