O Salmo 119 é um texto maravilhoso. É um dos salmos acrósticos. O alfabeto hebraico tem 22 letras e o salmista escreve 22 estrofes, com os 8 versículos de cada estrofe iniciando com a letra do alfabeto em ordem alfabética, fazendo um total de 176 versículos. É impressionante.
Os versos 1 a 8, começam com a primeira letra do alfabeto hebraico “aleph”, que corresponde ao “a” português. Os versos 9 a 16 com a segunda letra, “beth”, que corresponde ao “b” português. Estamos considerando hoje o verso 22, que faze parte do grupo da terceira estrofe (17 a 24) cujos versículos iniciam com a letra “guímel”, terceira letra, que corresponde ao “g” português.
Neste grupo da terceira estrofe vemos o salmista demonstrando seu amor e anseio pela Palavra do Senhor num contexto de oposição e de sofrimento. Ele se reconhece como um servo que desfruta da generosidade do Senhor, que contempla as maravilhas do Senhor, que anda neste mundo como um peregrino, que sofre por ser amigo de Deus, que permanece firme na Palavra de Deus, que é desprezado e caluniado injustamente, mas que encontra seu prazer nos testemunhos do Senhor.
Há situações no caminho de um peregrino que se tornam angustiantes. O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo (2 Timóteo 3:11-17) sobre as perseguições e sofrimentos que teve que suportar por andar com o Senhor e deixou este registro: “Na verdade, todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”. Recomendou, então, a Timóteo que ele permanecesse firme na Palavra inspirada por Deus que é “útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o servo de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra“.
O salmista fala de insultos e desprezo que estão pesando sobre ele, porque ele tem guardado a Palavra do Senhor. Andar no caminho da fidelidade aos testemunhos de Deus, não significa ter uma vida tranquila, pelo contrário, há um preço a pagar, pois homens sem o temor de Deus surgirão com insultos e difamações, que se tornam fardos difíceis de serem suportados.
O fato é que a forma de ser, de falar e de agir de quem vive piedosamente, incomoda e revela a muitos ao redor a sua vileza, maldade e perversidade, a sua preocupação apenas na satisfação pessoal, na satisfação de seus pecados, sem respeito para com o que é certo e justo, de acordo com os mandamentos de Deus. O salmista já se expressou sobre eles como soberbos e malditos e que colocam sobre ele um fardo muito pesado, ao ponto de assim orar: Tira de sobre mim, arranca fora, me liberte, deste peso dos insultos e desprezo, que não estou conseguindo suportar
Paulo alertou Timóteo sobre os perversos e impostores que “irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2 Tm 3:13). No Antigo Testamento Isaías deixou registrado: “Escutem a palavra do Senhor, vocês que tremem diante da sua palavra: Os irmãos de vocês os odeiam e os rejeitam por causa do amor de vocês pelo meu nome. Eles dizem: ‘Que o Senhor mostre a sua glória, para que vejamos a alegria de vocês.’ Mas eles é que serão envergonhados” (Isaías 66:5).
Jesus deixou isto muito claro quando disse: “Se o mundo odeia vocês, saibam que, antes de odiar vocês, odiou a mim. Se vocês fossem do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas vocês não são do mundo — pelo contrário, eu dele os escolhi — e, por isso, o mundo odeia vocês…..Tudo isso, porém, farão com vocês por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou……Se eu não tivesse feito entre eles as obras que nenhum outro fez, eles não teriam nenhum pecado; mas, agora, não somente viram como também odiaram tanto a mim como o meu Pai. Isso, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na Lei deles: Odiaram-me sem motivo” (João 15:18-25).
Todos os discípulos experimentaram insultos, desprezo, perseguição e martírio, foram odiados e sofreram por amor a Cristo. João ao escrever o livro de Apocalipse afirma: “Eu, João, irmão e companheiro de vocês na tribulação, no reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Apocalipse 1:9). Estava lá como prisioneiro condenado.
E precisamos nos apropriar também do ensino de Pedro: “Amados, não estranhem o fogo que surge no meio de vocês, destinado a pô-los à prova, como se alguma coisa extraordinária estivesse acontecendo. Pelo contrário, alegrem-se na medida em que são coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vocês se alegrem, exultando. Se são insultados por causa do nome de Cristo, vocês são bem-aventurados, porque o Espírito da glória, que é o Espírito de Deus, repousa sobre vocês” (1 Pedro 4:12-14).
Como o salmista oremos “Tira de sobre mim os insultos e o desprezo, pois tenho guardado os teus testemunhos” (Salmo 119:22) não nos esquecendo deste ensino também do apóstolo Pedro: “Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus entreguem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (1 Pedro 4:19).