“Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos.” (Salmo 119:66).
Esta oração do salmista me leva a fazer duas perguntas:
- Creio nos Seus mandamentos, na Sua Palavra, que é verdadeira, ontem, hoje e sempre? Foi exatamente isso que afirmou o Senhor Jesus Cristo: “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” (Mateus 24:35).
- Se creio nos mandamentos e na Palavra de Deus, já fiz, de todo coração, esta oração ao Eterno Deus: “Ensina-me bom juízo e conhecimento”?
Trata-se de uma oração para ter “bom juízo”, que significa aprender a julgar corretamente, examinando demorada e atentamente todos os lados de uma determinada questão, com toda prudência, ponderação e de forma criteriosa. Interessante verificar que algumas pessoas, que residiam na cidade de Bereia, foram consideradas “nobres”, por procederem exatamente assim ao ouvirem a mensagem anunciada pelo apóstolo Paulo, como está escrito: “Ora, estes de Bereia eram mais nobres do que os de Tessalônica, pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição social e muitos homens.” (Atos 17:11,12). Que bênção é ter “bom juízo”!
Senhor Deus, “ensina-me bom juízo e conhecimento”, é o pedido a ser feito, para atravessar todo o ciclo da vida, desde o nascimento. Trata-se de pedir também “bom conhecimento”, que significa receber as ideias, as informações com discernimento. Provavelmente o salmista fazia sua oração atendendo a orientação sábia que se encontra no Livro de Provérbios 2:1-15:
“Meu filho, se você aceitar as minhas palavras e guardar no seu coração os meus mandamentos; se você der ouvidos à sabedoria e inclinar o seu coração ao entendimento; sim, se você pedir inteligência e gritar por entendimento; se buscar a sabedoria como a prata e a procurar como se procuram tesouros escondidos, então você entenderá o temor do Senhor e achará o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e a inteligência. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que andam com integridade, guardando as veredas da justiça e conservando o caminho dos seus santos. Então você entenderá a justiça, o juízo e a equidade — todas as boas veredas. Porque a sabedoria entrará no seu coração, e o conhecimento será agradável à sua alma. O discernimento o guardará e o entendimento o protegerá. A sabedoria o livrará do caminho do mal e do homem que diz coisas perversas; dos que abandonam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas; dos que têm prazer em fazer o mal e se alegram com as perversidades dos maus, cujas veredas são tortuosas e que se desviam em seus caminhos.” (Provérbios 2:1-15).
O discernimento, esta faculdade de julgar as coisas de maneira clara e sensata, é imprescindível para todos os ciclos da vida. O discernimento que conduz uma pessoa a ter cautela e prudência em toda e qualquer circunstância. O discernimento que conduz uma pessoa a ter bom senso, com habilidade para discernir entre o verdadeiro e o falso, e que lamentavelmente está ausente no dia a dia das pessoas, que tão facilmente são enganadas e ficam sujeitas a seguir por caminhos tortuosos, em vez de andar na vereda da retidão. Este aprendizado do bom juízo e do conhecimento é eminentemente prático e não teórico. Leva a um viver de obediência ao Senhor, concordando com o que Deus concorda, aprovando o que Deus aprova. A grande falha dos líderes do povo de Deus no Antigo Testamento foi a falta de obediência. O profeta Ezequiel ao anunciar a futura restauração de Israel, refere-se a reformas que aconteceriam e menciona, entre tantas outras que: “os sacerdotes ensinarão o meu povo a distinguir entre o santo e o profano e lhe darão entendimento quanto à diferença entre o impuro e o puro.” (Ezequiel 44:23). Finalmente chegaria um tempo de ministério com discernimento.
Já nos tempos do Novo Testamento, o autor da carta aos Hebreus falou da incapacidade de muitos, para compreenderem a verdade da Palavra de Deus, por terem preguiça de ouvir. Nos dias de hoje, observamos não só a preguiça de ouvir como também de pensar e raciocinar. Muitos não se desenvolvem e nem buscam terem “bom juízo e conhecimento”. Talvez nunca tenham pedido a Deus por isto. Para estes fica a exortação: “Pois, quando já deviam ser mestres, levando em conta o tempo decorrido, vocês têm, novamente, necessidade de alguém que lhes ensine quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus. Passaram a ter necessidade de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal.” (Hebreus 5:11-14).
Senhor Deus, “ensina-me bom juízo e conhecimento”, é o pedido a ser feito, para que deixemos de ser crianças, avancemos na vida de fé e saibamos diferenciar cada vez mais claramente a diferença entre o santo e o profano, entre o puro e o impuro, entre bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto; no meio de uma sociedade madura para o juízo de Deus, e que não sabe “distinguir entre a mão direita e a mão esquerda.” (Jonas 4:11).
Há um passagem do apóstolo João muita elucidativa, onde ele refere-se aos crentes como sendo “filhinhos”, “jovens” e “pais”. Pensemos por uns instantes neste texto, perguntando-nos a nós mesmos, em qual destas categorias nos encontramos? Diz o texto: “FILHINHOS, escrevo a vocês, porque os seus pecados são perdoados por causa do nome de Jesus. PAIS, escrevo a vocês, porque conhecem aquele que existe desde o princípio. JOVENS, escrevo a vocês, porque vocês têm vencido o Maligno. FILHINHOS, escrevi a vocês, porque conhecem o Pai. PAIS, escrevi a vocês, porque conhecem aquele que existe desde o princípio. JOVENS, escrevi a vocês, porque são fortes, e a palavra de Deus permanece em vocês, e vocês já venceram o Maligno.” (1 João 2:12-14). Resumindo temos:
- FILHINHOS – porque os seus pecados são perdoados por causa do nome de Jesus e porque conhecem o Pai
- PAIS – porque conhecem aquele que existe desde o princípio.
- JOVENS – porque vocês têm vencido o Maligno e porque são fortes, e a palavra de Deus permanece em vocês, e vocês já venceram o Maligno.
A continuação deste capítulo dois de João é de uma preciosidade sem igual, quanto a este tema de alcançarmos o discernimento, o “bom juízo e conhecimento”. Leia com atenção 1 João 2:15-29. Veja só os alertas dados por João:
- 1 João 2:18-19 – “…esta é a última hora. E, como vocês ouviram que o anticristo vem, também agora muitos anticristos têm surgido; por isso sabemos que é a última hora. Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos.”
- 1 João 1:21,22 – …nenhuma mentira procede da verdade. Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho.”
- 1 João 2:26 – “Isto que acabo de escrever para vocês é a respeito dos que estão tentando enganá-los.”
O espaço não permite considerar de forma completa este texto de João, mas veja só as fontes de conhecimento que estão à nossa disposição:
- 1 João 2:20,21 – “Mas vocês têm a unção que vem do Santo e todos têm conhecimento. Não escrevi a vocês porque não conhecem a verdade, mas porque vocês a conhecem, e porque nenhuma mentira procede da verdade.”
- 1 João 2:24 – “Permaneça em vocês o que vocês ouviram desde o princípio. Se o que ouviram desde o princípio permanecer em vocês, também vocês permanecerão no Filho e no Pai.”
- 1 João 2:27 – “Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine. Mas, como a unção dele os ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permaneçam nele, como também ela ensinou a vocês.”
É necessário lembrar que todos os que se tornaram cristãos, “foram regenerados não de semente corruptível, mas de semente incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Porque ‘toda a humanidade é como a erva do campo, e toda a sua glória é como a flor da erva. A erva seca, e a flor cai; mas a palavra do Senhor permanece para sempre.’ Esta palavra é o evangelho que foi anunciado a vocês.” (1 Pedro 1:23-25).
E qual é este evangelho? “Irmãos, venho lembrar-lhes o evangelho que anunciei a vocês, o qual vocês receberam e no qual continuam firmes. Por meio dele vocês também são salvos, se retiverem a palavra assim tal como a preguei a vocês, a menos que tenham crido em vão. Antes de tudo, entreguei a vocês o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (1 Coríntios 15:1-4)
Regenerados, convertidos, tendo recebido a Jesus Cristo como Senhor e Salvador, como filhinhos, como jovens, ou como pais, todos precisam orar sempre para terem bom juízo e conhecimento, por que amam ao Senhor e à Sua Palavra. Todos os cristãos precisam ter o devido discernimento desta palavra: “Não amem o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo — os desejos da carne, os desejos dos olhos e a soberba da vida — não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como os seus desejos; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” (1 João 2:15-17).
“Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos.” (Salmo 119:66). Só tendo Jesus, “o qual se tornou para nós, da parte de Deus, sabedoria, justiça, santificação e redenção” (1 Coríntios 1:30”, é que todo o ciclo de nossa vida agradará o Senhor. É pelo Espírito de Cristo, que está em nós e que nos leva a permanecer em Cristo, que o discernimento se torna possível. E João conclui o capítulo dois com esta palavra: “Mas, como a unção dele os ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permaneçam nele, como também ela ensinou a vocês. E agora, filhinhos, permaneçam nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados, tendo de nos afastar dele no dia da sua vinda. Se sabem que ele é justo, reconheçam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido de Deus.” (1 João 2:27-29).